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Lugar de mulher é onde ela quiser

A servidora Gracielly Cardoso, 32 anos, técnica de TI do IFPA campus Bragança, é mestranda de um Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada e desenvolve pesquisa sobre o monitoramento ambiental do mangue. Ao longo da trajetória acadêmica e profissional, se viu frequentemente diante de ambientes dominados por homens. Piauiense, aprendeu com a vida a se impor e a não aceitar que lhe dissessem o que pode e o que não pode fazer.

  • Publicado: Quarta, 13 de Fevereiro de 2019, 11h07
  • Última atualização em Quarta, 13 de Fevereiro de 2019, 11h16
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Vem do Campus Bragança a segunda história da série “Mulheres e meninas na Ciência”, que celebra a atuação das mais de 800 pesquisadoras que vivem a pesquisa científica dentro do Instituto Federal do Pará.

Nascida no Piauí, Gracielly Costa Fontes Cardoso, de 32 anos, aprendeu em casa - com a mãe - a não aceitar que lhe dissessem o que podia ou não fazer. No fim da adolescência, escolheu um curso técnico em uma área ainda dominada por homens: a tecnologia da informação. “Eram 60 alunos naquele curso técnico no IFPI, cinco eram meninas. E eu fui a única a concluir”, lembra. Dali para a graduação na área de tecnologia foi um passo. Na universidade, ela já sabia o que a esperava: professores homens, coordenadores homens, colegas homens: a turma de 45 alunos tinha seis mulheres, mas só duas colaram o grau.

“Isso não é uma particularidade do Brasil, infelizmente. No mundo todo é assim na área de TI. Tanto nas universidades como no mercado de trabalho, as vagas são dominadas por homens. Em todos os locais que eu trabalhei, aliás, não raramente eu era a única mulher da equipe. Isso às vezes intimidava”, diz Gracielly.

A proporção entre homens e mulheres dos cursos de tecnologia da informação começa a dar sinais de mudança. Um exemplo vem do próprio Campus Bragança: 18 das 40 vagas ofertadas no curso de Tecnologia em Desenvolvimento de Sistemas (TDS) pelo Processo Seletivo Unificado (PSU) 2019 foram conquistadas por meninas - algumas delas na parte de cima da lista, com as melhores notas.

A mudança de perfil em cursos de entrada para o mundo de TI, como o de TDS, anima Gracielly, que agora está diante de mais um desafio na carreira acadêmica: um mestrado na área da computação aplicada. Gracielly é aluna do Programa de Pós-Graduação de Computação Aplicada (PPCA) da Universidade Federal do Pará campus Tucuruí e desenvolve um trabalho de pesquisa sobre o monitoramento do ecossistema manguezal com a utilização de sensores remotos. Dentro do programa, são 18 mestrandos, duas mulheres. “A minha pesquisa serve para dar suporte a outros pesquisadores, que estão envolvidos com o estudo do caranguejo-uçá, principalmente o ciclo reprodutivo da espécie”, explica. Mesmo tendo que literalmente colocar o pé na lama, Gracielly se diz satisfeita de poder dar a sua contribuição à pesquisa e à ciência na região que escolheu para viver. “Esses sensores vão permitir que o pesquisador verifique em tempo real as variáveis ambientais do mangue, como umidade, temperatura, salinidade. Vai permitir facilitar e aprimorar o trabalho das pesquisas no mangue”, diz a mestranda.

 

Um setor de TI feito por mulheres

Servidora do IFPA campus Bragança desde 2014 e ocupando um cargo na equipe técnica da Coordenação de Tecnologia da Informação do campus - atualmente formada por duas mulheres, duas estagiárias e um estagiário - Gracielly também assumiu um papel de protagonismo nas ações do IF em Bragança. Ela é a atual coordenadora dos Processos Seletivos para ingresso no campus e lidera uma equipe com outros cinco servidores, responsáveis pela elaboração e acompanhamento do edital e pela aplicação das provas.

“Minha mãe me ensinou que ninguém pode me dizer o que eu posso e o que eu não posso fazer”, lembra Gracielly, abrindo um largo sorriso. Aos 32 anos, ela agora transmite para filha Sophie, 2, o aprendizado que trouxe de casa. “A sociedade ainda é muito machista; e a mulher ainda carrega esse peso. Ou melhor, a mulher ainda enfrenta esse peso. O meu conselho para as meninas que hoje estão na escola e sonham em ingressar nesse mundo da pesquisa em TI é que não se intimidem. Quando a gente tem um sonho, a gente tem que correr atrás dele. As barreiras, as pedras no caminho, estão lá para ser superadas.”

 

“Será que ela sabe o que está fazendo?”

E como se destacar em áreas como a de TI, marcadas pela presença masculina? Gracielly tem a resposta na ponta da língua. “Não baixemos as nossas cabeças. As mulheres que se sobressaem nesse meio de TI são as que têm um posicionamento forte, objetivo, e que se impõem. Sempre rola aquela pressão, do ‘será que ela sabe o que está fazendo?’. Nessas horas, você tem que ter a resposta do conhecimento para conquistar o respeito”, explica.

“Quando você começa a frequentar esses ambientes e vê que só tem professores homens, quando entra na sala e vê que são só colegas homens, pode ser intimidador. Mas pode virar motivação”, diz Gracielly. “Mesmo que muitas vezes você possa pensar que aquele ambiente não é o teu, que aquele espaço não é das mulheres. É, sim. Eu fui rotulada muitas vezes como a maria-joão, por estar sempre no grupinho dos meninos. Doía, mas aquilo nunca me impediu de nada. E eu aprendi que eu poderia fazer o que eu quisesse fazer. Hoje a coordenadora do meu programa de mestrado é uma mulher. Quando você vê alguém igual a você numa posição de destaque, abrindo o seu próprio caminho, você se inspira; e fazendo o que eu faço, espero, quem sabe, inspirar outras meninas.”

 

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