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IFPA campus Belém divulga lançamento de livro de geografia sobre religião

  • Publicado: Terça, 03 de Agosto de 2021, 23h37
  • Última atualização em Terça, 03 de Agosto de 2021, 23h37
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O território e a territorialidade são bases onde se constitui a realização das práticas religiosas. Neste sentido, os elementos simbólicos contribuem para a construção da identidade que mantêm vínculos de um grupo com o espaço geográfico em seu caráter multiescalar, temporal, dinâmico e em rede, enquanto produto da ação humana, construído e partilhado. Símbolos e espaço criam as condições para o surgimento da noção de pertencimento a uma religião.

É a partir das perspectivas da Geografia que Cleison Ferreira, Diego Lopes da Silva, Marília Luiza Peluso, Pamela Arteaga, Vanda Pantoja e Wallace Pantoja escreveram o livro "Religião e conexões geopolíticas no terceiro milênio". Uma obra que inaugura uma série de volumes que vão tratar das conexões entre geopolítica e religiões na contemporaneidade. Neste livro, cada autor analisa um território religioso e seu processo de gestação, expansão e contração. “A tese de fundo que se levanta é que a religião é a grande questão geopolítica de nosso tempo, mas só é possível uma interpretação contemporânea no plano da pluralidade religiosa e de como as ideias, simbolismos e práticas são incorporadas na vida diária dos que partilham os tempos e espaços das respectivas religiões”, explica professor Wallace Wagner Rodrigues Pantoja.

Relacionar religião, cultura e geopolítica é o desafio alcançado pelos autores do livro. Com prefácio escrito pela Dra. em Psicologia Social Marília Luiza Peluzo, o Volume é composto por seis artigos de fácil leitura. Foi organizado por Pamela Arteaga, Marília Luiza Peluso e Wallace Pantoja. A capa é de Danilo Sueiro e Rogério Pereira, toda em marrom repleta de símbolos brancos e pretos que despertam curiosidade e refletem a diversidade simbólica existente no campo da religião.

No dia 5 de agosto, será realizada uma live de lançamento do Volume. Na ocasião, os participantes poderão conversar com os autores e lhes fazer perguntas.

A obra está disponível para leitura somente em versão digital.

 

O que aborda cada um dos seis artigos que compõem o volume?

No capítulo que abre a obra, “Camadas de temporalidade na espacialidade religiosa judaica: a relação do judeu observante com seu território religioso sagrado sob a ótica da geografia da religião”, o foco é a Geografia da Religião – campo entre a Geografia Humanística e a Geografia Cultural. Diego Lopes da Silva, servidor na Secretaria de Educação do Distrito Federal, buscou descrever a importância do templo, enquanto espaço do sagrado, como elemento de coesão social que cria noção de pertencimento a um determinado grupo religioso. O artigo aponta a geografia e a religião como faces da humanidade, resultantes da interação com a dimensão espacial. A primeira, enquanto ciência, analisa o espaço social, político e econômico. A segunda, pautada na fé, é resultante deste espaço em constante construção, estruturante e estruturado, que edifica uma visão de mundo. “A elaboração do espaço e da espacialidade do sagrado viabilizam a relação do homem com a sociedade e com seu espaço produzido”.

Vanda Pantoja, em “Geopolítica do sagrado: o Círio de Nazaré em Belém-PA e suas definições, um campo de conflitos”, segundo capítulo, busca apresentar o lado comercial daquela que é considerada a maior festa religiosa da capital paraense. Faz o resgate da origem do festejo e enumera algumas das transformações pelas quais vem passando a festa ao longo dos séculos. Na visão da autora, com foco na organização e no controle da celebração, este evento é uma mercadoria e, ao mesmo tempo, espaço para a expressão de poder da Diretoria da Festa em relação a todos os demais envolvidos em sua organização.

Uma reflexão sobre a modernidade: religião e política no Distrito Federal”, artigo escrito pela pesquisadora Marília Luiza Peluso, para apresentar o potencial político da espacialidade e do pentecostalismo carismático, se propôs a responder quais processos levaram ao fracionamento das religiões cristãs históricas. Como se formaram os convertidos às igrejas pentecostais e carismáticas? Os convertidos às novas denominações religiosas formam uma força política considerável neste momento globalizado da modernidade que deveria ser secular? As hipóteses partem da certeza que o homem se insere em um mundo preexistente e, neste sentido, o passado ajuda a compreender o presente. Além de uma revisão bibliográfica ampla, ouviu-se duas adeptas de igreja pentecostal para exemplificar o desenvolvimento teórico exposto no capítulo.

Mormonismo em Belém do Pará (Brasil) – Dimensão transterritorial da identidade dos santos” é um artigo escrito pelo professor do Instituto Federal do Pará (IFPA) Wallace Wagner Rodrigues Pantoja. A proposta é interpretar as relações entre o território e a identidade dos mórmons na região metropolitana da capital paraense, participantes da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, os mórmons. Com base em entrevistas, observações e pesquisas em documentos, o autor problematiza elementos da geografia a partir do fenômeno religioso em contexto amazônico.

Em “Natureza e espaço sagrado – sentir, fazer, mitificar”, Pamela Eliza Morales Arteaga, no campo da Geografia Cultural, busca demonstrar a amplitude do entendimento da natureza como transcendente na perspectiva do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (UDV) situado em Brasília. Com base em revisão bibliográfica e entrevistas semiestruturadas, realizadas em 2015, com membros deste espaço de vivência religiosa, a autora apresenta a natureza enquanto apropriação humana, sacralizada e transcendental. Para ter acesso ao Mariri (Banisteriopsis Caapi) e Chacrona (Psychotria Viridis), esta sociedade religiosa trabalha em prol da conservação, reflorestamento e um relacionamento zeloso com a natureza.

O Maracatu-nação e a noite dos tambores silenciosos: territorialidade religiosa e política no carnaval do Recife (PE)” é um artigo escrito por Cleison Leite Ferreira. Retrata uma cerimônia religiosa de matrizes africanas e ameríndias realizada anualmente à meia-noite da segunda-feira de carnaval, desde 1960, no Pátio do Terço, no centro do Recife (PE), a cerimônia Noite dos Tambores Silenciosos. Durante a passagem do maracatu, o espaço é ressignificado, deixando de ser o espaço do comércio e do culto católico, e passa a ser o espaço do culto religioso de referências africanas, espaço sagrado para o Xangô, a Jurema e a Umbanda, definindo-se como hierofania. O texto apresenta a constituição de uma hierofania; territorialidade religiosa, política e cultural como expressão resultante de práticas sociais que definem territorialidades. Apresenta a caracterização dos Maracatus-Nação e sua relação com o espaço metropolitano do Recife, onde criam territorialidades nos bairros onde estão localizadas suas sedes. Por último, analisa o território religioso e político do Pátio do Terço, a cerimônia religiosa Noite dos Tambores Silenciosos.

A obra será lançada no dia 5 de agosto, às 9 h, no canal oficial do Youtube do IFPA. O arquivo do livro pode ser baixado gratuitamente no link: https://drive.google.com/file/d/12JvMs3OuaDRvgrgqgH3Ae2cst1GplEzW/view?usp=sharing

Conversa com o professor Wallace Pantoja sobre a obra:

Este volume, Religião e conexões geopolíticas no terceiro milênio, é uma obra que inaugura uma série que trata das conexões entre geopolítica e religiões na contemporaneidade. “Os próximos volumes, como este, pretendem pluralizar os referentes de pesquisa, os aportes teórico-metodológicos e colocar lado a lado pesquisadores com amplo reconhecimento no tema e novos pesquisadores que tenham algo a acrescentar ao debate propositivo”, adianta Wallace Pantoja.

 

-Os estudos (ou pesquisas) que deram origem à obra foram desenvolvidos em qual período?

Em períodos diferentes, porque sendo uma coletânea de artigos resultam de pesquisas em diferentes grupos religiosos - entre judeus, mórmons, membros da União do Vegetal, evangélicos, católicos e de matrizes afro-brasileiras. Porém, muitos dos dados apresentados e interpretações foram sistematizados pelos autores entre 2017 e 2019.

 

-Quais as razões que os levaram a produção da obra?

A convergência dos autores para o tema das religiões em uma perspectiva muito específica, qual seja, a importância geopolítica das mesmas na contemporaneidade brasileira e planetária. A tese weberiana do "desencantamento do mundo" e a tendência percebida por pesquisadores de um redutibilidade da religião ao campo do privado e do pessoal tem se mostrado não só incorreta, mas incapaz de compreender muitas dinâmicas territoriais da atualidade que são atravessadas pela gestão espacial de projetos de mundo religiosos que se infiltram no plano do cotidiano em sociedades plurais.

 

-Qual a relação da obra com o IFPA?

A obra foi gestada no meu douramento na UnB, onde trabalham as outras organizadoras. Porém, ela se efetivou quando eu já compunha o quadro do IFPA e, do meu ponto de vista, revela o esforço do Curso de Geografia em diversificar suas temáticas, propor alternativas teóricas e ampliar a sua ressonância na produção científica regional e nacional.

 

-Como falar do sagrado e das religiões em espaço científico sem conflitar com a ciência?

Esta é uma ótima questão. Normalmente parece temerário esta intromissão, inclusive é um ponto de disputa ainda hoje em campos completamente voltados ao tema, como as Ciências da Religião. Porém, a primeira questão é que não está em julgamento, em pesquisas como esta, a crença, os princípios doutrinários ou as práticas rituais em termos de juízo de valor, ou seja, se são verdadeiras ou falsas, "do bem" ou "do mal" em uma bipolaridade maniqueísta que atinge o imaginário brasileiro hoje. O que buscamos pesquisar é como espaços são moldados, identidades de pertencimento são elaboradas, ressignificações territoriais são constituídas ou representações de mundo são reproduzidas na relação individual e coletiva de diferentes segmentos sociais com suas religiões.

Obviamente, críticas são tecidas - porque é próprio do desdobramento científico o procedimento crítico - mas a crítica é no sentido de interpretar a realidade espacial constituída na relação entre coletivos, religiões e geopolítica dos territórios religiosos e não em relação ao conteúdo da crença por si. Tanto que há pesquisadores que pertencem às religiões abordadas no volume, mas o cuidado é elaborar uma interpretação válida da espacialidade e representações geográficas das mesmas, o que será julgado (e criticado) pelos/as leitores/as. Porém, o que é incontornável é que o fenômeno religioso em uma perspectiva geográfica com conexões políticas é importante demais para ser ignorado pelas ciências humanas.

 

-Qual a contribuição da UNB, UFMA e o IFPA no livro? Como foi tecida esta parceria?

A contribuição se deu com a vontade de tornar públicas as pesquisas que compartilhavam esta aproximação entre geografia, religião e política do cotidiano entre os/as pesquisadores/as. Não foi um convênio interinstitucional oficial, mas uma aproximação orgânica entre os pesquisadores proposta pelos organizadores. Porém, o apoio institucional para divulgação e circulação do volume, que é o primeiro de uma série em construção, tem sido fundamental.

 

-Quais as fontes financiadoras?

Não houve financiamento. A publicação desta edição é independente, sem correlação com alguma editora. Partiu do esforço, colaboração e custeio dos autores.

 

-Qual a participação do IFPA na obra? Envolveu alunos, recursos do Campus Belém ou foi resultante de convênios do IFPA?

A participação se dá pelo meu vínculo como professor da instituição, mas pela minha entrada recente não houve maiores envolvimentos. Porém, como já mencionado, como esta é uma obra que inicia uma série, sua continuidade exigirá uma participação do IFPA, especialmente no fomento da pesquisa entre estudantes interessados no tema e suas correlações com o plano do ensino, não só de geografia.

 

-Para a melhor compreensão da sociedade, quais os principais pontos da obra que o senhor enumeraria como importante para o mundo científico e para a sociedade em geral?

O livro trabalha com diferentes pontos de vista de geógrafos e geógrafas dedicados aos estudos sobre territórios religiosos ou temas correlatos. Avança na compreensão de religiões ainda pouco pesquisados no Brasil, em termos geográficos, como o Mormonismo ou a União do Vegetal; mas tenta - e este é o objetivo desta publicação e das que vão se seguir - pluralizar as matrizes e entender como o território religioso interfere na vida cotidiana do homem e das mulheres comuns no Brasil. Em um momento onde a religião passa a ser mobilizada para ganhar votos ou impor um conjunto de pautas morais, não raro em franca oposição à avanços de direitos civis e de minorias, compreender a dinâmica dos territórios religiosos e das concepções que animam as representações sociais de religiões tão diferentes se faz necessário para além do campo estritamente científico. Ademais, alguns artigos se propõem a uma compreensão geo-histórica, o que pode auxiliar no entendimento mais efetivo deste universo plural de crenças, religiosidades e territorialidades em convivência - e em conflito - no Brasil e em outros países.

 

-O livro retrata um pouco da história da criação da religião, as conexões geopolíticas, modernidade, mórmons e maracatu. Como estes temas podem auxiliar o leitor?

Vivemos uma contemporaneidade onde há uma reemergência das religiões - ou antes, nunca arrefeceram sua potência, apesar de leituras científicas finalizarem para a relação entre modernidade e perda de poder das religiões ou vivência das mesmas no plano mais privado que público. O que nossas pesquisas - em conexão com outras - apontam é na realidade uma reunião identitária em torno de diferentes religiões e, estas, funcionando como alternativas de estabilização existencial em um mundo instável social, política e econômica e até sanitariamente (se pensarmos na pandemia). Claro, tal estabilização pessoal e coletiva, provoca desestabilizações em diferentes escalas, na medida em que assumir uma religião é participar de um território, não raro, rigidamente hierarquizado e que produz uma separabilidade entre "santos" e "mundanos" com consequências geográficas muito variadas, algumas já estudadas e outras não, acontecendo no agora. Ao se debruçar sobre, por exemplo, como os mórmons estruturam seu território em Belém do Pará, como o Maractu funciona como uma resistência religiosa e trincheira de afirmação afro-brasileira ou como a União do Vegetal produz uma concepção de sustentabilidade como projeto de mundo ou ainda de que maneira ocorre a gestão do Círio de Nazaré pela Igreja Católica em Belém do Pará, é possível perceber um atravessamento da dimensão geopolítica na vivência destas práticas religiosas.

 

- Há várias obras sobre religião, o que este livro traz de novo?

Penso que esta é uma contribuição modesta e se junta a muitas outras importantes neste campo de pesquisa. Porém, dois aspectos me parecem diferenciais: Primeiro. Pensar uma geopolítica a partir de relações mais cotidianas e não tão "estatais" ou "de grandes blocos de poder" em uma conexão com a religião (no plural). Segundo. Levantar questões sobre matrizes e grupos religiosos ainda pouco enfocados no debate geográfico, o que pluraliza o olhar e também problematiza estudos que tendem a se manter dentro de religiões mais conhecidas (e mesmo aceitas) na sociedade brasileira.

 

- Qual a importância desta obra? Por que alguém não pode deixar de lê-la?

Sua diversidade de referentes empíricos e sua pluralidade de concepções teóricas bem como o tratamento cuidadoso em termos metodológicos, soma-se a isto a possibilidade de um aprendizado, ainda que inicial, das concepções territoriais e geoestratégias de uma pluralidade de religiões atuantes no Brasil contemporâneo.

 

Informações sobre os autores

Wallace Pantoja é professor da disciplina de Metodologia Científica e Estágio Supervisionado no curso de Licenciatura em Geografia no Instituto Federal do Pará (IFPA) campus Belém desde de 2020.

Marília Luiza Peluso e Pâmela Morales são servidoras na Universidade de Brasília UnB), Diego Lopes servidor no DF, Vanda Pantoja é servidora na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e Cleison Ferreira é servidor na Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEED-DF).

Baixe e leia a obra:

O arquivo do livro pode ser baixado gratuitamente pelo link: https://drive.google.com/file/d/12JvMs3OuaDRvgrgqgH3Ae2cst1GplEzW/view?usp=sharing

 

 

 

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