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Estudo aponta o potencial de indicação geográfica do cacau Tuerê

  • Publicado: Sexta, 05 de Abril de 2024, 14h58
  • Última atualização em Sexta, 05 de Abril de 2024, 14h59
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Os resultados do projeto “Análise do potencial de indicação geográfica para o cacau Tuerê”, selecionado pelo Edital 3/2022 da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec/MEC), foram divulgados por professor do Instituto Federal do Pará (IFPA) campus Rural de Marabá em evento on-line promovido pela Agência de Inovação do Ifes (Agifes) e a Inova SP, no dia 13 de março. Dada a alta qualidade do produto, constatou-se o potencial de viabilidade para a IG indicação de procedência. 

A indicação geográfica (IG) é um tipo de certificação que identifica um produto ou serviço como originário de um local, região ou país. Feita com base em levantamento de determinada reputação, característica e/ou qualidades que possam ser vinculadas essencialmente a esta sua origem particular.

O projeto Análise do potencial de IG do cacau Tuerê foi proposto e coordenado pelo Professor do IFPA Campus Rural de Marabá (IFPA CRMB), Danillo Henrique da Silva Lima. E foi desenvolvida com a colaboração da Professora do IFPA campus Castanhal, Lara Lima Seccadio; apoio do membro da Cooperativa dos Produtores de Cacau e Desenvolvimento Agrícola da Amazônia (Coopercau), Ney Ralison Silva de Oliveira e participação de estudantes bolsistas e voluntários do IFPA CRMB: Nadson Henrique Sousa Bezerra, Mirian Mikaely Sousa dos Santos, João Rycardo Lopes de Sousa, Ana Clara Alves dos Santos e Anna Julya Oliveira Vasconcelos. 

A apresentação dos resultados do diagnóstico foi feita pela estudante Mirian Mikaely e o professor Danillo Henrique. Eles explicaram que a amêndoa de cacau Tuerê é conhecida por suas características únicas e de alta qualidade gerada pela combinação entre meio geográfico, cultura de produção cacaueira com plantas híbridas em meio a solos de alta fertilidade e uso de Sistemas Agroflorestais. O sabor das amêndoas é intenso e com leve amargor, uma textura suave, cremosa e com aroma agradável.

As visitas ao assentamento Tuerê, situado entre as aldeias indígenas Bacajá e Parakanã no município de Novo Repartimento, em uma região montanhosa, de clima tropical úmido, com temperatura média de 27,1ºC e pluviosidade 2.230 mm ao ano, serviram para verificar as condições de cultivo e beneficiamento do produto. Os sítios produtores de cacau avaliados durante a pesquisa têm, em média, 79 hectares de área total, com cerca de 7,6 hectares de plantio de cacau e produção média de 6.700 quilos de amêndoas por ano. Dessa produção, 87% é de cacau comum e 13% de cacau fino. 

A equipe do projeto esteve em dois momentos no assentamento –24 e 25 de novembro de 2023 e 29 e 30 de janeiro de 2024– para roda de conversas com produtores de cacau, aplicação de questionário, realização de diagnóstico sobre produção e beneficiamento ,coleta de solos das lavouras cacaueiras e sensibilização dos produtores sobre a importância da IG para o cacau do assentamento Tuerê. Ao todo, visitaram 11 propriedades situadas em diferentes localidades no Tuerê, especialmente na Serra da Fumaça e Serra Azul, além de locais fora do assentamento, como a vicinal Pacajazinho. Durante estas visitas, foram coletadas 16 amostras de solo e quatro amostras de amêndoas para realização de análises laboratoriais.  

Grupo de pessoas posando para foto em frente a janela

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Registros da visita no Assentamento Tuerê durante os dias 24 e 25 de dezembro de 2023. Fonte: projeto “Análise do potencial de indicação geográfica para o cacau Tuerê”.

Uma imagem contendo foto, diferente, vivendo, quarto

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Registros da visita no Assentamento Tuerê durante os dias 29 e 30 de janeiro de 2024. Fonte: projeto “Análise do potencial de indicação geográfica para o cacau Tuerê”.

Para o bolsista Nadson Bezerra este projeto foi de grande importância para economia do município e os agricultores de cacau da região. Ampliou a visibilidade desse mercado e potencializou a marca cacau Tuerê. Ele destaca o fato do cultivo do cacau ser sustentável ao meio ambiente, e permite mostrar para a população que não é necessário desmatar ou degradar o meio ambiente para se conseguir renda. “Eu sendo filho de Novo Repartimento, fico muito feliz. Através desse projeto, estou contribuindo para fortalecer o reconhecimento do meu município e dos agricultores enquanto produtores de amêndoas de altíssima qualidade”.

Nadson comenta ainda que, ao longo das pesquisas, lhe chamou muito a atenção a forma como as amêndoas de cacau chegaram ao município. “As amêndoas foram distribuídas aos agricultores pelo senhor Edvaldo Ramos Costa da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira – Ceplac, e estes foram plantando para consumo próprio”. Ele também destaca a coincidência de justamente estas amêndoas terem conquistado renome e grandes premiações. “Outra coisa que me chamou muito a atenção foi o manejo dessas amêndoas, como elas são preparadas para o consumo final, sem grandes mecanizações, sem grandes preparos. Sendo seu preparo apenas de modo rústico e simples, sendo aplicado apenas os conhecimentos populares da região”.

Análises laboratoriais

No Laboratório de Química do IFPA campus Rural de Marabá, sob as orientações do Professor Elder Roncheti e da Técnica de Laboratório, Kelly Christina, foram realizadas as análises de acidez, pH e umidade das amêndoas de cacau Tuerê, amostras de cacau fino e cacau comum. E no Laboratório de Engenharia de Alimentos do IFPA campus Castanhal, sob orientações da Professora Lara Seccadio e da Técnica de Laboratório, Leiliane Araújo, foram analisados os teores de proteína, carboidrato, lipídio e cinza. Os resultados destas análises serão analisados estatisticamente e submetidos a periódico científico, ressalta professor Danillo.

Grupo de pessoas cozinhando

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Realização de análises (acidez, pH e umidade) em amêndoas de cacau fino e comum do Tuerê no Laboratório de Química do IFPA Campus Rural de Marabá. Fonte: projeto “Análise do potencial de indicação geográfica para o cacau Tuerê”.

Foto de comida

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Realização de análises (teores de proteína, carboidrato, lipídeo e cinza) em amêndoas de cacau fino e comum do Tuerê no Laboratório de Engenharia de alimentos do IFPA Campus Castanhal. Fonte: projeto “Análise do potencial de indicação geográfica para o cacau Tuerê”.

Uma atividade marcante do projeto foi a participação de membros da equipe na 3ª Semana Nacional de Educação Profissional e Tecnológica em Brasília para apresentar o projeto e contribuir com a divulgação dos produtos da Coopercau (amêndoas de cacau e nibs caramelizado) e de seus cooperados como Francisco e Jailiane Cruz, produtores de cacau e de chocolates (Chocolates Tuerê).

A esquerda: Danillo, coordenador do projeto, e Kauan, filho de produtor de cacau do Tuerê, em Novo Repartimento, Pará. Ao centro: estande com produtos (amêndoas e nibs caramelizado) da Coopercau e chocolates da Chocolates Tuerê disponíveis para demonstração e degustação. A direita: Anna Clara e Ana Julya fazem parte do projeto como alunas voluntárias e estavam participando do evento através de outras pesquisas que participaram. Fonte: projeto “Análise do potencial de indicação geográfica para o cacau Tuerê”.

O diagnóstico de indicação geográfica

O diagnóstico de potencial de indicação geográfica para o cacau Tuerê obteve pontuação máxima de indicação de procedência, igual a cinco. O processo de avaliação do produto (amêndoas de cacau) revelou uma grande notoriedade devido à alta qualidade existente, principalmente devido aos concursos nacionais e internacionais conquistados. A cooperativa envolvida no processo de assistência dos produtores, compra e venda da produção local, tem governança proativa. A identidade e senso de pertencimento, territorialidade e visão de futuro são altas, entre 4 a 4,8 pontos. Ao todo foram analisados 13 critérios, e a média global foi 4. Resultado que aponta o potencial de IG por Indicação de Procedência (IP) para a produção de cacau no Assentamento Tuerê, município de Novo Repartimento (PA).

Os próximos passos, de acordo com os pesquisadores, é padronizar o método de beneficiamento para assegurar a qualidade do produto da região, avaliar possibilidade de diagnóstico de origem, desenvolver parcerias com instituições de pesquisas para avaliar produção e beneficiamento, aumentar a produtividade de forma sustentável, fortalecer a participação dos cooperados e sensibilizar sobre a importância da IG cacau Tuerê, bem como, aumentar produção de cacau fino para melhorar o desempenho econômico.

O projeto foi desenvolvido pela parceria entre a Coopercau o IFPA campus Rural de Marabá e o campus Castanhal. Ações do projeto foram apoiadas pelo Sebrae/Marabá e pela Fundação Solidaridad. As atividades foram financiadas pelo Ministério da Educação (MEC) e Instituto Federal do Espírito Santo (IFES).

Desafios

O projeto identificou uma série de desafios a serem superados para a obtenção da IG: melhorar o desempenho econômico dos cooperados via incentivo à produção de cacau fino; fortalecer a participação dos cooperados nas reuniões e sensibilizar sobre a importância da IG para o desenvolvimento sustentável; informar sobre a proteção necessária do nome cacau Tuerê para evitar problemas jurídicos e comerciais; fortalecer parcerias institucionais para pesquisas sobre produção e beneficiamento do cacau na região; padronizar o método de beneficiamento do produto para assegurar suas qualidades e promover boas práticas de produção para aumentar a produtividade de forma sustentável.

Professor Danillo Henrique avalia que o projeto contribuiu para o reconhecimento da qualidade e diagnóstico do potencial de indicação geográfica do cacau Tuerê. Ressalta que esta foi uma etapa inicial para o processo de pedido de IG junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). “Este trabalho serviu para constatar que a produção de cacau na região do Tuerê tem um enorme potencial de contribuir com a redução do desmatamento, com a recuperação de áreas degradadas e a fixação das famílias no campo com melhoria na qualidade de vida”. 

Os resultados da pesquisa do IFPA foram além do diagnóstico. Confira as demais opiniões:

A estudante e pesquisadora voluntária Anna Julya avalia que este projeto desenvolvido pelo IFPA alavancou a possibilidade da criação da IG de origem ou de procedência do cacau Tuerê. Ela acredita que, se a IG vier, poderá gerar valor para a região e “aos produtos que já eram vistos com bons olhos, porém não havia algo que comprovasse esse valor e a qualidade das amêndoas de cacau do Tuerê”.

A jovem comenta que o cacau sempre foi muito querido.  Nos impérios inca/maia foi a base da moeda, além de, artigo de luxo. É um privilégio vindo de muito trabalho o cacau Tuerê ser reconhecido como um dos melhores do Brasil, o que me chamou atenção no projeto foi o fato deste cacau/chocolate ser tão premiado e ainda não ter a certificação de IG

Outra pesquisadora voluntária, Ana Clara considerou este projeto de IG de extrema importância por gerar relatórios e conhecimento sobre as características geográficas da região, “que tendem a valorizar os métodos culturais de produção de cacau além de empenhar-se para o progresso de futuras pesquisas”.

Ana Clara diz que ficou deslumbrada com a qualidade do cacau, o sabor, as serras da região e “com a iniciativa dos produtores em produzir o chocolate na própria região”.

O estudante bolsista João Rycardo acredita que o projeto desenvolvido pelo IFPA ampliará o reconhecimento dos produtores e das amêndoas do assentamento Tuerê ampliando o mercado. “Com isso os produtores terão o selo de IG que pode valorizar o produto e impedir que usem sua marca "cacau tuerê"”.

João Rycardo destaca que o que mais lhe chamou a atenção foi a maneira “como os produtores trabalham com o fruto, e como são os locais de manejo do cacau até a venda do produto”.

O presidente da Coopercau Ney Ralison, colaborador do projeto do IFPA, destaca que os cooperados trabalham em Sistemas Agroflorestais e produzem amêndoa de cacau que foi várias vezes premiada devido à alta qualidade. Ele acredita que o selo de IG será um registro que pode garantir segurança, em relação ao nome Tuerê, às famílias produtoras. Ele comenta que ficou admirado com “o empenho da equipe do IFPA, a vontade de fazer.  A possibilidade de entender e/ou enxergar através dos dados levantados a viabilidade ou não para requerimento de registro de Indicação Geográfica”.

Para a professora do IFPA Castanhal, Lara Lima Seccadio, colaboradora na etapa de análise físico-química, este projeto do potencial do cacau Tuerê destacou o protagonismo dos povos do campo residentes em assentamento, “evidenciando o alcance dos princípios de justiça social e aumento da produtividade, em áreas assistidas por políticas de reforma agrária. Em uma região profundamente marcada por conflitos agrários, como o Sudeste Paraense”.

“Através dos resultados do projeto, se observa que a estrutura organizacional que os produtores de cacau da região do Tuerê possuem, através da Coopercau, é um elemento positivo para a comprovação da capacidade gerencial de uma Indicação Geográfica”, garante Lara. 

Lara ainda ressalta o fato do projeto ter mapeado as condições potenciais de gestão, “planejamento da produção, e de notoriedade e reconhecimento da alta qualidade das amêndoas produzidas, para o alcance do selo de indicação geográfica, e consequente estratégia de diferenciação e proteção comercial do produto”. Outro ponto que lhe chamou a atenção foi “o envolvimento da cooperativa nas atividades do projeto, denotando um interesse que é fundamental para a validação de uma identidade produtiva regional”.

A bolsista Mirian Mikaely considera o projeto de análise do potencial de Indicação Geográfica do cacau Tuerê de suma importância para confirmar características como a qualidade das amêndoas, conhecer e registrar os processos produtivos da região e para propor melhorarias no modo de produção através de pesquisas e de resultados parciais. “Obtivemos o diagnóstico da IG e com ele foi possível observar diversos pontos fortes e fracos do processo produtivo que podem ser melhorados pelos produtores, além de buscar o selo da IG para que o nome do cacau Tuerê tenha a proteção legal necessária”.

O ambiente em que as amêndoas de cacau são produzidas e a simplicidade das estruturas em que ocorre todo processo de produção chamara a atenção de Mirian Mikaely. “A integração de outras culturas em um só sistema deixa nítido que interfere positivamente no sucesso da produção”, observa.

Saiba mais em:

- Diagnóstico do potencial de indicação geográfica para o cacau Tuerê: https://drive.google.com/file/d/1RLksGaIqeZw9ENk9xiRnimX4Egd8HKxX/view?usp=sharing

- Apresentação dos resultados do projeto: https://www.youtube.com/live/YIo3W-HNJHA?feature=shared&t=4358 (a partir do tempo 1:11:00)

 

 

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