Meninas e mulheres da ciência fazem a diferença no IFPA e no Pará
Para comemorar o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, te apresentamos o Grupo “Meninas da Geo”. Projeto do Instituto Federal do Pará (IFPA) e Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) que vem abrindo e conquistando espaço para meninas e mulheres em um campo de trabalho predominante masculino.
O grupo de extensão e pesquisa é uma iniciativa da professora Tatiana Pará do Campus Castanhal do IFPA e faz parte do Programa Meninas Digitais da Sociedade Brasileira de Computação (SBC) criado, em 2011, para despertar o interesse de meninas pelas carreiras em Tecnologia da Informação e Comunicação
Hoje, somam forças à fundadora na liderança do grupo, as professoras doutoras Natália Cavalcanti do campus Belém do IFPA e a professora Thaís Braga da UFRA. Um dos principais objetivos do acordo entre as instituições é permitir a atuação de docentes nas atividades de pesquisa e extensão em regime de cooperação mútua para a execução do projeto “Meninas da Geo” nas duas instituições até 2025. Todo o trabalho é desenvolvido por discentes e egressos dos cursos superiores do IFPA campi Castanhal e Belém e na UFRA campus Capanema.
A atuação de Tatiana Pará
O trabalho como docente assumido por Tatiana Pará Monteiro de Freitas, mais conhecida como Tatiana Pará, vem quebrando paradigmas em geoprocessamento e geotecnologias, empoderando meninas e meninos que buscam trabalhar com técnicas de Geo para fortalecer o ensino, pesquisa, extensão e conhecimentos em Geotecnologias.
Formada em Agronomia pela UFRA, Tatiana se especializou em áreas tecnológicas de geoprocessamento, cartografia, topografia e sensoriamento remoto por meio de drones e imagens de satélites. Sua formação e experiências pessoais nas ciências agrárias lhe levaram a fundar o Grupo “Meninas da Geo” em 2019, um espaço para uso de Sistema de Informação Geográfica – SIG enquanto ferramenta de Geomática (Geoprocessamento) e programação em linguagem Python das técnicas de Geotecnologia, para capacitar novas meninas e meninos por meio de minicursos e fomentar o uso e disseminação da prática dessas ferramentas como subsídio à inserção no mercado de trabalho para aplicação desse conhecimento nas áreas rurais com foco no fortalecimento das mulheres enquanto profissionais em tecnologias digitais, produtoras de ciência e produtoras rurais.
O trabalho de Tatiana Pará colocou o IFPA campus Castanhal, em 22 de dezembro de 2020, entre os membros da Rede YouthMappers, ampliando a internacionalização do Instituto. O Campus passa a compor um grupo com 13 mapeadoras da Amazônia através da cartografia colaborativa, social e criativa para atender à demanda cartográfica no Norte do Brasil conforme consta no mapa da instituição. Os Youth Mappers (Jovens Mapeadores) é uma rede formada inicialmente pela parceria entre as universidades Texas Tech University, George Washington University, West Virginia University e, mais recentemente, a Arizona State University.
Meninas da Geo é projeto de resistência
Resultante da experiência e vivência de professora Tatiana Pará no mundo da Agronomia, o projeto foi pensado como forma de evitar que suas alunas sofressem os preconceitos que ela enfrentou. A fundadora do grupo relata que foi assediada e impedida de acessar o mundo do trabalho por ser mulher e jovem.
Com o apoio da família, superou as barreiras, estudou até ser aprovada no concurso para professora no IFPA. Ao assumir a função, se comprometeu a empoderar as meninas e a criar condições para não deixar nenhuma mulher ao seu redor desamparada.
Para engajar e introduzir suas alunas no mercado de trabalho de uma maneira mais amena, mitigar a problemática de assédio e preconceito de gênero, seu primeiro passo foi propor um curso extra sala de aula. Conversando com as estudantes do IFPA, descobriu que algumas delas tinham interesse em cursos de pilotagem drone. Os relatos, porém, revelaram que as meninas acreditavam que somente os meninos tinham vez nos testes práticos, para piorar, muitas acreditavam que ao se formar não seriam contratadas. Diante desta constatação, Tatiana Pará pediu uma chance a elas para demonstrar que é possível conquistar o próprio espaço, bastando engajamento, parceria e treinamento para serem referência de excelência profissional na área.
O Grupo Meninas da Geotecnologia, mais conhecido como “Meninas da Geo” nasceu desta disponibilidade da professora Tatiana Pará em oferecer maior capacitação às suas alunas desde o curso técnico até a graduação. Na primeira turma, oito jovens aceitaram o desafio. Estas fizeram curso de pilotagem de drone, uso de software de geoprocessamento via GPS. Tudo foi feito de forma prática, indo a campo e em trilhas para mapear e produzir mapas. A professora entrava em contato com os setores que precisavam deste tipo de serviço para oferecer o trabalho capacitado desenvolvido pelas meninas.
Drone também é coisa de Menina
A pilotagem de drone é útil para produção de imagens, geoprocessamento, pulverização de larvicida de combate à dengue, transporte de vacina e para acesso a locais restritos. “Nós meninas temos tanto competência quanto os meninos, basta ter oportunidade. Quando entrego um drone a uma menina, ela sente medo. É normal ter medo. Mas, com o treino, o uso no dia a dia do equipamento, podemos perceber o quanto é fácil manuseá-lo e pilotá-lo”, afirma Tatiana Pará.
O Grupo Meninas da Geotecnologia é para meninas e meninos. “Quando os meninos vêm para o grupo, pedimos para que se reconheçam como Meninas da Geo, assim como as meninas não deixariam de ser mulheres por fazer parte de um grupo de trabalho com nome masculino, o mesmo vale para os meninos”, ressalta a professora.
O Grupo é cadastrado dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 5) do IFPA para promover a equidade de gênero na região amazônica. “Para promover esta equidade, precisamos que os meninos, as mulheres trans e afins estejam neste grupo para fazer esta transformação que almejamos na sociedade”, esclarece.
Quando falamos de geotecnologia entendemos as tecnologias envolvidas para o mapeamento e reconhecimento de um lugar. A localização de um endereço é geotecnologia, é geografia e cartografia, informação útil para sabermos onde estamos e para onde queremos ir. Serve para mapear, por exemplo, onde ocorre violência doméstica. Permite, também, o acompanhamento em tempo real do trânsito e do meio ambiente e onde requer ação e intervenção imediata.
Meninas da Geo é inclusão
No grupo, as meninas têm espaço para falarem e serem ouvidas. Não se trata de um projeto apenas técnico, mas de apoio cidadão, em que as professoras tentam, após ouvi-las atentamente, encaminhar para soluções viáveis. Há um convite especial às mães, pois é o grupo que mais enfrenta dificuldades para encontrar estágio e permanecer nas aulas. Tem uma carga horária mínima e flexível com possibilidade de acolhimento dos filhos das alunas mães. “Trata-se de uma cartografia inclusiva não só do gênero feminino, mas de pessoas com deficiência na visão por meio da tradução em Libras de alguns textos e mapas. Trabalhamos com mapeamento tátil em alto relevo, braille”, comenta professora Tatiana Pará.
“O papel do educador é estar acessível para a sociedade. Eu não sou somente professora do IFPA, eu sou professora em todos os lugares. Se você demandar algo que eu possa lhe ajudar, você sendo aluna do IFPA ou não, farei de tudo para lhe auxiliar. Enquanto educadora, eu tenho que ajudar a transformar esta sociedade”, concluí.
Acordo de Cooperação Técnica entre IFPA e UFRA
A parceria acadêmica exitosa firmada entre as professoras Tatiana Pará do campus Castanhal do IFPA e Thais Braga do campus Capanema da UFRA resultou no Acordo de Cooperação Técnica firmado pelos reitores Cláudio Alex do IFPA e o Marcel Botelho da UFRA celebrado em 11 de dezembro de 2020, na UFRA, entre as duas instituições na presença das mesmas e da professora Natália Cavalcanti do campus Belém do IFPA. O termo Nº 04/2020 foi publicado no D.O.U nº 242 de sexta-feira, 18 de dezembro de 2020.
Meninas da Geo recebe patrocínio de R$ 1 milhão de reais do Ministério da Mulher
As professoras do Grupo Meninas da Geo tiveram projeto aprovado e serão patrocinadas pela Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (SNPM/ MMFDH) por meio da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa – FADESP para a execução e implantação de ações nas áreas de ensino, pesquisa e extensão para disseminação de tecnologias sociais de produtos e processos em capacitação em Sistemas Agroflorestais – SAF através de cursos e oficinas a serem desenvolvidas nos municípios de Ananindeua, região metropolitana de Belém, e o município de Portel, na ilha do Marajó (PA).
Em seu terceiro ano de existência, esta é uma nova etapa do Projeto Meninas da Geo. Visa a melhoria da qualidade de vida e bem-estar social de pelo menos quatro mil mulheres do campo e da cidade, – ribeirinhas, extrativistas, quilombolas, catadoras de material reciclável, agricultoras familiares e rurais – , que vão aprender o caminho do empreendedorismo por meio do uso de geotecnologias. O objetivo é estimular as atividades econômicas e financeiras em bases sustentáveis e com incentivo ao empreendedorismo, à agroindustrialização e o uso de ferramentas de geotecnologias para apoio e fortalecimento das cadeias produtivas locais do Cacau e do Açaí.
Para tanto, em duas etapas, ao longo de dois anos, com orçamento aprovado por meio de emenda da relatoria da SNPM de R$ 1 milhão de reais, o Projeto Meninas da Geo buscará ofertar capacitação em educação ambiental, empreendedorismo e educação financeira por meio do empoderamento e tecnologias para a promoção do desenvolvimento social e local com base na oferta de suporte tecnológico, econômico, social e ambiental às mulheres das comunidades participantes a partir do aproveitamento do potencial da biodiversidade local. As iniciativas previstas abarcam ações como cursos e treinamentos com duração de 10h até 40h e certificado. Os temas incluem alfabetização digital, noções de língua estrangeira, gramática, igualdade de direitos, manejo de recursos naturais, sistemas agroflorestais, inclusão social e produtiva.
As estudantes e os voluntários do projeto ganharão, além de experiência, uma oportunidade de solidificar a formação profissional na área de Ciências Agrárias pela extensão sobre Sistemas Produtivos voltados à agricultura familiar, formação tecnológica em geoprocessamento e formação continuada, licenciamento ambiental rural para regularização de áreas urbanas e rurais de empreendimentos femininos, pesquisa bibliográfica e do uso de recursos computacionais e internet para elevar a oferta de produtos da biodiversidade local, tais como, cacau, açaí, pupunha, cupuaçu e banana, em sua maioria orgânicos e impulsionar o processo de agroindustrialização e fabricação de produtos alimentícios artesanais nas ilhas de Ananindeua e Belém; fortalecimento da Rota de Integração Nacional – Açaí e Cacau. Incentivar a coleta seletiva, a reciclagem e redução dos impactos ambientais; contribuir para elevar a renda da população participante das capacitações em atividades geradoras de renda (Oficinas e Palestras) e uso de aplicativos de vendas; assegurar certificação e formação em empreendedorismo, produção agrícola e geoprocessamento.
As professoras esperam que o Projeto Meninas da Geo promova, nas localidades onde atuará, a regularização das áreas urbanas e rurais de empreendimentos femininos por meio do mapeamento de mercados consumidores e a formação de multiplicadores rurais de conhecimento das ferramentas digitais, podendo reconfigurar e proporcionar novas perspectivas profissionais para as mulheres da região atendida.